segunda-feira, novembro 12, 2007

Sporting: o que nos dizem os números

A derrota do Sporting em Braga foi tão evidente que só pode acentuar a discussão sobre o que se passa em Alvalade. No final do jogo, Paulo Bento colocou a questão no plano da atitude, ao dizer que não tinham feito por merecer a camisola do clube. E era verdade, embora isso por si só não explique tudo.

Até porque o problema não começou em Braga. Se fosse apenas um dia mau, o assunto merecia meia dúzia de linhas. Mas não é disso que se trata.

Esta época, o Sporting ganhou apenas uma vez fora de casa para a Bwin Liga, na Amadora. Perdeu com um erro no Dragão, empatou na Luz, andou adormecido na Choupana e caiu com estrondo em Braga. Olhando para os jogos, é justo admitir que o Sporting poderia ter trazido um ponto do Porto. De resto, tudo certo.

Viver bem fora de casa era o forte do Sporting na época passada. A grande mudança, de José Peseiro para Paulo Bento, foi a capacidade de pensar como equipa sem bola.

Antes o Sporting era mais alegre e criativo na frente, mas defendia com leveza. Acreditava de mais em si próprio, como se o futebol fosse um jogo de nota artística e não um desporto tantas vezes cruel para quem mais o promove.
Com Paulo Bento, o Sporting passou a guardar melhor a sua baliza. Um jogo mais sólido, um caminho menos directo para o golo, mas suficientemente eficaz. Um estilo «se eles não marcarem ficaremos mais perto de o fazer nós». Não resultou mal.

Pelo meio, o Sporting também jogou bem.

Esta época, o Sporting raramente joga o que se espera e defende mal, somando erros.

Só este mês já encaixou oito golos, à surpreendente média de dois por encontro. Em quatro partidas, só perante a Naval não começou a perder, permitindo que o adversário marcasse antes da meia hora.

Em minha opinião, mais do que erros pontuais, estes golos resultam da má colocação do meio-campo. Nessa zona não existe um jogador em boa forma.

Miguel Veloso tem sido a referência, mas atravessa uma fase em que parece jogar mais para ele do que a equipa. Cai pouco nas alas, não é tão firme a desarmar e marca o adversário sem rigor, como no primeiro golo do Sp. Braga. Parece só se satisfazer com a bola nos pés e aí continua excelente. Mas não chega.

Ao lado, João Moutiho mantém a alma de outros dias. Mas só isso. Provavelmente estará espantado por de repente ser necessário um pouco por todo o lado, desesperando por obviamente não conseguir responder.

Izmailov simplesmente não percebeu a forma de jogar da equipa e Romagnoli tem sido de menos como «10», perdendo muitas vezes a bola e com isso desequilibrando a equipa.

Os dois golos sofridos frente à Roma são um bom exemplo de má colocação, com o meio-campo a defender demasiado atrás, concedendo espaço para remates de longe.

Apesar de se encontrar a oito pontos do líder, diria que a solução para o problema talvez não passe por uma cavalgada em busca dos golos que dêem vitórias. Até porque o Sporting marcou nove vezes este mês. Por mim, a chave é amarrar Miguel Veloso, estabilizar Moutinho, escolher entre Izmailov e Romagnoli e utilizar mais um médio de trabalho. E depois esperar que Liedson resolva. Até que a confiança regresse.

P.S. Talvez esta análise esteja errada e o problema seja mais grave. Como explicar que Paulo Bento, a perder por 1-0 em Braga, com 45 minutos pela frente, decida alterar o sistema que mais vezes utilizou, trocando-o por um improviso? Se o problema era de atitude, como disse, as palavras certas no balneário não teriam sido a melhor forma de alterar as coisas? A entrada de Had, depois do 3-0, foi uma confissão pública da má avaliação anterior. E se o treinador não acredita nas suas escolhas, como vão os jogadores acreditar?

Artigo da autoria de Luís Sobral e publicado no jornal Mais Futebol